quarta-feira, fevereiro 27, 2013

A CONFIANÇA INCONDICIONAL



por Alexandre Saioro  

  Uma das coisas que mais procuramos manter na vida é aquela confiança de que tudo vai dar certo. Estamos sempre nos agarrando na confiança de que as coisas serão como esperamos e de que seremos capazes de conquistar e manter as condições que idealizamos para nossa felicidade. Em nossos relacionamentos queremos ter a confiança de que não seremos magoados, traídos ou desrespeitados, de que nossos planos e projetos se realizarão, de que as coisas acontecerão da forma como imaginamos e de que conseguiremos ultrapassar as adversidades e obstáculos.
  Esta postura está associada à busca de segurança de controle da vida. Mas pense um pouco e se pergunte se um dia você terá todas as coisas como espera e elas não mudarão mais, ou se mudarem você terá total controle do encaminhamento da mudança?
  Se apoiar neste tipo de confiança nos coloca constantemente num estado de paranóia e luta com o movimento e mudança das coisas e situações. Isto, inevitavelmente, nos envolve num círculo vicioso de sofrimento, pois por mais que nos esforcemos em conquistar e manter nossos desejos e objetivos, nada nos garante a permanência destas conquistas. 
 Quando não nos permitimos levar em conta a possibilidade do fracasso, nos enrijecemos interiormente de tal maneira que perdemos não só o frescor de viver as experiências de sucesso, como também a criatividade para lidar com as mudanças que possam surgir. Desta forma, podemos chegar à conclusão de que este tipo de confiança que buscamos, além de ser uma grande fantasia é uma poderosa causa de sofrimento para nós e para os outros. Ou seja, tal confiança ao invés de nos fortalecer, só nos enfraquece. 
  É comum vermos quando passamos por situações desafiadoras as pessoas falando para termos confiança que tudo vai dar certo. Mas o que é este “tudo vai dar certo”?
 Certa vez, um amigo meu me disse que quando falavam isto para ele, ele achava engraçado, porque, para ele, não havia um “vai dar certo”. Em sua visão, melhor do que ter confiança que algo iria acontecer como ele esperava, era ter a confiança de que seja o que acontecesse, ele saberia lidar bem com aquilo, pois, para ele, a real confiança residia na liberdade interna de saber lidar com qualquer situação e fazer dela algo bom. Na confiança do meu amigo não havia expectativas num futuro idealizado, porque havia a total receptividade e disponibilidade para o momento presente com toda sua riqueza e possibilidades.
  O senso comum de confiança se baseia na ideia de que podemos contar com algo que não está no presente. Quando digo “eu confio nisso” essa coisa em que confio é algo que eu espero que continuará sendo essa mesma coisa ou acontecerá num futuro. Em outras palavras, podemos dizer que quando confiamos em algo, estamos entregando nossa integridade, paz, bem-estar e felicidade para coisas e condições que, na verdade, não existem e nada nos garante que existirão. 
 Meu amigo diz que este tipo de confiança em coisas e condições é completamente insano. Para ele a vida está sempre nos convidando a atravessá-la sem ressalvas, sem medos e esperanças que nos fazem desperdiçar a oportunidade de descobrir e viver o real significado de liberdade. E este significado de liberdade está ligado ao desenvolvimento de um tipo de confiança que podemos chamar de Confiança Incondicional. Esta confiança é totalmente sem garantias, e ela começa a brotar na medida em que nos tornamos cada vez menos inflexíveis diante do movimento instável da vida e aprendemos a “surfar” as situações. E começamos a surfar as situações quando diminuímos nossas exigências. Este é um primeiro e grande passo, pois quanto menos exigências temos em nossa vida, mais flexíveis e criativos seremos diante das situações.
  Quando desenvolvemos esta disponibilidade para “o que der e vier”, abrimos nossos olhos para inúmeras possibilidades, movimentos e capacidades. Tudo se torna mais fácil, pois não estamos presos em uma perspectiva de vida e nossas percepções se tornam muito mais abertas e abrangentes. Continuamos tendo nossas ideias e planos, mas eles são apenas um impulso inicial para exercermos nossa liberdade e criatividade em nosso diálogo com a vida.
  Um surfista quando escolhe uma onda para descer, não sabe como será o seu movimento, portanto ele tem que estar aberto ao diálogo com ela e é exatamente isto que torna tudo muito divertido.

ALEXANDRE SAIORO ministra para grupos e empresas o Programa de Redução do Estresse - A Arte do Estresse - baseado em metodologias utilizadas na área de desenvolvimento humano e organizacional e em métodos de meditação e contemplação da tradição budista. Para saber mais sobre o Programa vá até o final do Blog ou acesse: http://a-arte-do-estresse.blogspot.com/