quarta-feira, fevereiro 27, 2013

A CONFIANÇA INCONDICIONAL



por Alexandre Saioro  

  Uma das coisas que mais procuramos manter na vida é aquela confiança de que tudo vai dar certo. Estamos sempre nos agarrando na confiança de que as coisas serão como esperamos e de que seremos capazes de conquistar e manter as condições que idealizamos para nossa felicidade. Em nossos relacionamentos queremos ter a confiança de que não seremos magoados, traídos ou desrespeitados, de que nossos planos e projetos se realizarão, de que as coisas acontecerão da forma como imaginamos e de que conseguiremos ultrapassar as adversidades e obstáculos.
  Esta postura está associada à busca de segurança de controle da vida. Mas pense um pouco e se pergunte se um dia você terá todas as coisas como espera e elas não mudarão mais, ou se mudarem você terá total controle do encaminhamento da mudança?
  Se apoiar neste tipo de confiança nos coloca constantemente num estado de paranóia e luta com o movimento e mudança das coisas e situações. Isto, inevitavelmente, nos envolve num círculo vicioso de sofrimento, pois por mais que nos esforcemos em conquistar e manter nossos desejos e objetivos, nada nos garante a permanência destas conquistas. 
 Quando não nos permitimos levar em conta a possibilidade do fracasso, nos enrijecemos interiormente de tal maneira que perdemos não só o frescor de viver as experiências de sucesso, como também a criatividade para lidar com as mudanças que possam surgir. Desta forma, podemos chegar à conclusão de que este tipo de confiança que buscamos, além de ser uma grande fantasia é uma poderosa causa de sofrimento para nós e para os outros. Ou seja, tal confiança ao invés de nos fortalecer, só nos enfraquece. 
  É comum vermos quando passamos por situações desafiadoras as pessoas falando para termos confiança que tudo vai dar certo. Mas o que é este “tudo vai dar certo”?
 Certa vez, um amigo meu me disse que quando falavam isto para ele, ele achava engraçado, porque, para ele, não havia um “vai dar certo”. Em sua visão, melhor do que ter confiança que algo iria acontecer como ele esperava, era ter a confiança de que seja o que acontecesse, ele saberia lidar bem com aquilo, pois, para ele, a real confiança residia na liberdade interna de saber lidar com qualquer situação e fazer dela algo bom. Na confiança do meu amigo não havia expectativas num futuro idealizado, porque havia a total receptividade e disponibilidade para o momento presente com toda sua riqueza e possibilidades.
  O senso comum de confiança se baseia na ideia de que podemos contar com algo que não está no presente. Quando digo “eu confio nisso” essa coisa em que confio é algo que eu espero que continuará sendo essa mesma coisa ou acontecerá num futuro. Em outras palavras, podemos dizer que quando confiamos em algo, estamos entregando nossa integridade, paz, bem-estar e felicidade para coisas e condições que, na verdade, não existem e nada nos garante que existirão. 
 Meu amigo diz que este tipo de confiança em coisas e condições é completamente insano. Para ele a vida está sempre nos convidando a atravessá-la sem ressalvas, sem medos e esperanças que nos fazem desperdiçar a oportunidade de descobrir e viver o real significado de liberdade. E este significado de liberdade está ligado ao desenvolvimento de um tipo de confiança que podemos chamar de Confiança Incondicional. Esta confiança é totalmente sem garantias, e ela começa a brotar na medida em que nos tornamos cada vez menos inflexíveis diante do movimento instável da vida e aprendemos a “surfar” as situações. E começamos a surfar as situações quando diminuímos nossas exigências. Este é um primeiro e grande passo, pois quanto menos exigências temos em nossa vida, mais flexíveis e criativos seremos diante das situações.
  Quando desenvolvemos esta disponibilidade para “o que der e vier”, abrimos nossos olhos para inúmeras possibilidades, movimentos e capacidades. Tudo se torna mais fácil, pois não estamos presos em uma perspectiva de vida e nossas percepções se tornam muito mais abertas e abrangentes. Continuamos tendo nossas ideias e planos, mas eles são apenas um impulso inicial para exercermos nossa liberdade e criatividade em nosso diálogo com a vida.
  Um surfista quando escolhe uma onda para descer, não sabe como será o seu movimento, portanto ele tem que estar aberto ao diálogo com ela e é exatamente isto que torna tudo muito divertido.

ALEXANDRE SAIORO ministra para grupos e empresas o Programa de Redução do Estresse - A Arte do Estresse - baseado em metodologias utilizadas na área de desenvolvimento humano e organizacional e em métodos de meditação e contemplação da tradição budista. Para saber mais sobre o Programa vá até o final do Blog ou acesse: http://a-arte-do-estresse.blogspot.com/


sexta-feira, abril 27, 2012

A REVOLUÇÃO DA COMPAIXÃO

Muitos acreditam que sentimentos como aversão, raiva e ódio nos ajudam a transformar nossas experiências e relações no mundo. Eu tenho minhas dúvidas. Penso que mudanças movidas por estes sentimentos estão fadadas a se tornarem tão prejudiciais quanto a situação anterior. Isto porque quando se faz uma mudança desta forma o que muda é apenas o objeto em que identificamos o problema e não a essência do problema.
Por exemplo, em nossas relações pessoais e sociais sofremos quando somos tratados com desrespeito e violência, mas quando tentamos evitar estas experiências, muitas vezes acabamos usando estas mesmas atitudes. O que acontece neste tipo de situação é que quando agredimos aqueles que nos agridem, seja com pensamentos, palavras ou ações, alimentamos o mesmo paradigma que queremos transformar, ou seja, colocamos mais lenha na fogueira. E, mais cedo ou mais tarde, tudo acaba se repetindo neste meio, gerando a mesma agressão e sofrimento que se estava querendo evitar. Além disto, o nosso sentimento de raiva nos cega de uma visão mais clara e completa da situação e também desestabiliza nosso estado físico e emocional. Por isso, penso que uma tentativa de mudança movida pela raiva é a forma mais ineficaz de melhorar uma determinada situação. E quando digo raiva não quero só dizer aquela raiva esbravejante, mas uma simples indignação pode dar vazão a atitudes completamente equivocadas e mesmo desastrosas. Todos nós achamos que é válido ficarmos indignados com erros e injustiças, mas o que não percebemos é que a indignação é a “filha mais nova” da raiva que tem sua origem na desconsideração e no desrespeito ao outro.
Há pouco tempo li um artigo sobre Ecologia da Mente escrito pelo ambientalista e escritor Carlos Cardoso Aveline em que ele fala do problema da indignação. Ele afirma que “o erro alheio não deve causar indignação. Pode-se combater o erro alheio, especialmente quando ele tem consequências negativas sobre os inocentes. Mas a indignação cega-nos e tira a serenidade. É preciso combater o erro, não a pessoa que errou. E a indignação diante do erro pode ser um disfarce da inveja. Perde-se muita energia com indignação perante os erros alheios. Esta energia seria melhor empregue no nosso próprio auto-aperfeiçoamento. Este último é algo que ninguém pode fazer por nós”. Partindo deste princípio podemos ver que antes de investirmos contra pessoas, grupos, assim como ideologias para mudar alguma situação de injustiça ou violência, temos que, primeiramente, olhar nossa tendência habitual de gerar intolerância, raiva e desrespeito em relação ao outro. É preciso entender profundamente que é contraditório e ineficaz infligirmos ao outro aquilo que não queremos para nós mesmos.
Isto não quer dizer que devamos deixar uma pessoa que traz prejuízo e sofrimento aos outros fazer o que ela bem entende. É claro que devemos impedi-la para que não cause mais mal. Mas uma coisa é fazer isso movido pelos sentimentos de vingança e castigo numa atitude de desconsideração e outra é fazer movido pelos sentimentos de compaixão, e amor numa atitude de reeducação. Temos que lembrar que aquele ser, por causa das experiências que teve ao longo da vida, acabou aprendendo a buscar a felicidade de uma maneira equivocada. Ninguém nasce com violência e ódio no coração, isto é aprendido e reforçado ao longo da vida, como diz Nelson Mandela: "Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, ou por sua origem, ou... sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se elas aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o seu oposto. A bondade humana é uma chama que pode ser oculta, jamais extinta".
Eu acrescentaria que nenhum bandido, corrupto e trapaceiro nasce com a ganância, a falta de escrúpulos e de ética. Ele aprendeu a buscar a felicidade desta forma. Todo ser, seja humano ou não, está buscando a felicidade. E se buscamos a felicidade é porque ainda não somos felizes, ou seja, estamos sofrendo, mesmo que seja um pequeno ou imperceptível sofrimento. É este fato que nos une a todos os seres e que nos conclama a ter, antes de tudo, consideração e respeito por todos. Todos os seres aprendem através do seu meio uma forma de encontrar alguma felicidade ou algum alívio do sofrimento. E a grandíssima maioria dos seres, diria 99%, buscam esta felicidade de forma autocentrada, buscando a satisfação de suas necessidades pessoais e do grupo que se identifica. Mas, assim como foi aprendido, isso pode ser desaprendido. Todos nós podemos ser reeducados. E o primeiro que precisa desta reeducação emocional somos nós mesmos.
Quando queremos resolver uma situação temos que estar bem atentos a nossa própria tendência autocentrada que dá surgimento à raiva e à desconsideração. É necessário desenvolver uma atenção bastante aguçada sobre esta tendência, pois, no final das contas, é ela a causa de todo o sofrimento que vivemos e vemos no mundo. Este é o primeiro passo para uma real mudança de qualidade em nossas experiências pessoais e sociais.
Quando partimos deste ponto numa intervenção de uma situação começamos de forma correta, pois ao levarmos o outro em consideração, podemos ver com mais clareza o que tem que ser mudado, onde começam realmente os problemas e, assim, saberemos como lidar com habilidade a situação em seus diversos níveis de interdependência. Na medida em que vamos nos tornando mais habilidosos em nossa atitude compassiva, desenvolvemos mais sabedoria e esta sabedoria incrementa mais ainda nossa compaixão. O resultado disto tudo é uma revolução através da compaixão em nossa maneira de ser e consequentemente em nossas experiências. Conquistamos cada vez mais liberdade e realização e descobrimos uma felicidade autêntica e um bem estar incondicional que podemos compartilhar com todos aqueles que nos acompanham em nossa jornada.
ALEXANDRE SAIORO ministra para grupos e empresas o Programa de Redução do Estresse - A Arte do Estresse - baseado em metodologias utilizadas na área de desenvolvimento humano e organizacional e em métodos de meditação e contemplação da tradição budista. Para saber mais sobre o Programa vá até o final do Blog ou acesse: http://a-arte-do-estresse.blogspot.com/

quarta-feira, abril 13, 2011

NÃO ADIANTA FUGIR, NEM MENTIR PRA SI MESMO


Esta é a minha frase favorita da letra de Nelson Motta na música composta por Lulu Santos “Como uma Onda”. Usando a metáfora das ondas no mar, a música fala sobre a mudança constante que vivemos, mostrando como nada é permanente. Nesta frase, ela nos lembra do medo que temos das mudanças dizendo que não adianta tentar se esquivar e acrescenta que “agora há tanta vida lá fora, aqui dentro, sempre, como uma onda no mar”.
Esta feliz associação da impermanência com a vida em sua plenitude, desafia nosso medo e nossa tentativa ilusória de manter as coisas como se elas não fossem mudar, e também nos mostra que este movimento de constante mudança é a própria beleza da vida.
Talvez gostaríamos que a vida fosse como aquelas estórias que nos contavam quando éramos crianças que terminavam em “e foram felizes para sempre”. Mas as coisas não são assim. E se formos observar o desenrolar de tudo que vivemos, veremos que quanto mais nos apegamos a esta falsa noção de felicidade e segurança mais criamos as condições para sofrermos.
“Não adianta fugir, nem mentir”. A mudança é a realidade de nossas vidas e não aceitar este fato é perder a oportunidade de ver que “há tanta vida lá fora, aqui dentro, sempre”. Mudança é vida mesmo quando ela implica em profundas perdas que nos chegam, até mesmo, como morte. Vivemos nesta contínua experiência de nascer e morrer a cada instante, na maioria das vezes suave e invisível, mas em outras tremendamente forte e chocante. Se conseguirmos nos familiarizar previamente e compreender esta realidade, poderemos lidar com as mudanças de forma mais lúcida, menos sofredora e diria até que vibrante.
Na verdade, não é difícil entender que as coisas mudam. O problema começa quando não queremos permitir as mudanças das coisas e procuramos fazer com que as situações sigam segundo nossos desejos. Esta dificuldade surge porque não realizamos emocionalmente a sabedoria da impermanência. E o que nos impede disto é o apego emocional. Para lidar com este apego é preciso um trabalho maior consigo mesmo, onde o nosso entendimento intelectual da impermanência penetre cada vez mais nossas experiências emocionais. Com a devida prática podemos alcançar uma tremenda liberdade diante das mudanças, não resistindo mais aos movimentos da vida, assim como um surfista que ganha a habilidade (e a alegria) de surfar uma grande onda, dançando no seu movimento, mesmo com todos os riscos que isto implica.
O primeiro passo para desenvolver esta habilidade emocional é não negar a impermanência, não tentar colocar ela debaixo do tapete e olhar para o outro lado. Muito pelo contrário, devemos contemplar a impermanência nas menores coisas possíveis e nos familiarizar com sua realidade permeando tudo a todo instante. Quanto mais nos familiarizarmos com este processo mais saberemos nos tornar destemidos e tranquilos com todas as mudanças que podemos passar.
Você pode perguntar se tem que fazer isso até mesmo com as coisas boas que está vivendo. E eu diria que principalmente com elas. São as situações boas que vivenciamos sem a sabedoria da impermanência que nos causam sofrimento quando elas acabam. Contemplar a impermanência nos faz perceber que toda esta solidez e realidade que damos às coisas e às experiências não têm fundamento. Tudo neste mundo como objetos, pessoas, sentimentos e pensamentos são fenômenos que surgem, ficam por um tempo e, depois, desaparecem. E não é muito inteligente colocar nossa confiança e suporte em coisas assim.
Pode parecer desalentador perceber isso e podemos achar que pensar desta forma vai nos tirar o prazer de viver. Mas, por exemplo, nós nos dispomos a ir ao cinema e nos emocionarmos com as alegrias, tristezas, excitações e tensões de um filme, sabendo que aquilo é apenas um filme e mesmo assim não deixamos de sentir estas emoções. E nós nos permitimos vivenciar isto porque nossa base existencial não está fundamentada no que se passa na tela, sabemos que aquilo não tem realidade e que não pode nos afetar verdadeiramente. E, cientes disso, além de nos divertirmos bastante, muitas vezes, após o filme ainda nos vemos profundamente influenciados pelo que assistimos.
Na medida em que contemplamos e meditamos na impermanência podemos descobrir que em meio a todo este movimento e instabilidade, há algo que está sempre presente: a lucidez de nossa mente livre. Quando libertamos nossa mente das ilusões sobre a realidade das coisas, descobrimos esta lucidez que explora destemidamente todo tipo de experiência.
Sem esta lucidez somos como um passarinho que vive numa gaiola com a porta aberta e que, por medo, não consegue sair. Sem esta lucidez somos como alguém que esqueceu que entrou numa sala de cinema e está apenas vendo um filme. E que, ao se identificar com a estória, os personagens e o ambiente do filme, acaba aprisionado pelas suas emoções diante dos acontecimentos que surgem da mágica exibição de luz e sombra, achando que esta é sua única realidade.

ALEXANDRE SAIORO ministra para grupos e empresas o Programa de Redução do Estresse - A Arte do Estresse - baseado em metodologias utilizadas na área de desenvolvimento humano e organizacional e em métodos de meditação e contemplação da tradição budista.
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quarta-feira, setembro 01, 2010

ONDE ESTÁ O INIMIGO?


Normalmente pensamos que podemos mudar as situações de nossa vida mudando as coisas externas. E realmente as coisas, às vezes, melhoram, mas o problema é quando isso não acontece. Esse é o tipo de situação em que tendemos a ficar estressados, deprimidos e ansiosos achando que a vida está contra nós etc. etc.
Na verdade, mesmo quando mudamos as coisas externamente e conseguimos melhorar a nossa situação podemos, ainda assim, sentir uma certa insatisfação quando vemos que tivemos que tomar certas atitudes e acabamos ferindo ou prejudicando alguém, fizemos algo que não gostamos de fazer ou se vemos que o jeitinho que demos nas situações não será duradouro. No fundo nós sabemos que por mais que se manipule as situações um dia elas vão mudar.
Nem sempre tentar mudar as coisas externas melhora a nossa qualidade de vida e nos traz felicidade. Quantas vezes mudamos de cidade, de emprego, de casamento, de relações sociais e acabamos caindo nos mesmos problemas e insatisfações de sempre?
Muitas vezes (e eu me arrisco a dizer que sempre) o real problema está em nossa mente. Não quero dizer com isso que as coisas externas não possam ou devam ser mudadas ou melhoradas, mas que as melhores mudanças são aquelas que surgem de uma mudança na qualidade da mente. Para fazermos mudanças verdadeiras em nossa vida a mente deve ter uma clareza e liberdade para vivenciar o processo da mudança. Quando temos isso, mesmo que as coisas externas não aconteçam da forma como esperamos, isso já não é o mais importante, pois a mente já mudou. É a transformação do sofrimento em criatividade. E, mesmo que ainda haja dor, não necessariamente haverá sofrimento. Esse estado é extremamente importante quando sabemos que não temos como escapar das situações e teremos que conviver com a dor e também será extremamente útil quando a maior de todas as mudanças de nossa vida acontecer: a morte.
Como mudar essa disposição interior diante do inevitável e da dor?
Geralmente, quando algo nos perturba, um desconforto e um sentimento de ameaça surge nos dizendo que temos que fazer alguma coisa. Procuramos identificar de onde veio o desconforto e a ameaça. Quando o identificamos encontramos o causador do nosso sofrimento, e o tratamos como o nosso inimigo. Este inimigo pode ser um sentimento, um pensamento, uma pessoa, uma doença, uma situação, não importa o que seja: é o inimigo, não gostamos do seu efeito sobre nós e não queremos conviver com ele.
Mas, e se antes de sairmos à caça do inimigo déssemos um passo para trás e o nos perguntássemos: Onde está realmente o inimigo? Haverá um inimigo?
Poderíamos observar meticulosamente toda essa experiência e sem querer reprimir, atacar ou eliminar um suposto inimigo, nós poderíamos procurar nos comunicar com a experiência e sinceramente querer entendê-la.
Na verdade, poderíamos dar dois passos para trás e antes de achar que há algum inimigo, poderíamos nos perguntar: O que é essa perturbação? De onde ela vem, onde ela está e para onde ela vai? Qual a natureza dessa perturbação? De que ela é feita?
Então, neste estado aberto, investigativo, plenamente consciente poderíamos perceber todos os movimentos e nuances daquela perturbação e acompanhar o seu desenrolar e nesse desenrolar ver a sua não solidez e maleabilidade e, então, descobrir uma nova disposição, uma nova disponibilidade interior para lidar com o desconforto e a ameaça que sentimos. Sem antagonismos, mas sim com um profundo interesse e liberdade. E se formos fundo em nossa investigação poderemos constatar a natureza ilusória dessa perturbação como algo composto por diversos elementos que se desfazem ao serem observadas cuidadosamente pelo calor de uma nova inteligência que surge deste processo, como uma escultura de gelo que se derrete sob o calor do sol, como um castelo de areia que se desfaz ao ser tocado. E, então, podemos ver a natureza trabalhável de toda experiência e que tudo pode ser desenvolvido com habilidade. Que a natureza da perturbação, ou seja, “a água” e “a areia”, pode ser trabalhada. Descobrimos a nossa criatividade, onde o “inimigo” se torna um aliado na criação de uma experiência melhor.
Podemos ver exemplos disso em pessoas que passaram por situações traumatizantes, acidentes, doenças graves e acontecimentos extremos que com habilidade ampliaram seu potencial criativo, sua liberdade e seu destemor.
Mas, creio eu, que tudo isso só é possível se você ao invés de se deixar levar pela reação comum da mente de achar que há algum responsável exterior pelo que você vive, você audaciosamente perguntar: Onde está o inimigo? Haverá um inimigo?
E no silêncio da sua indagação você poderá descobrir o significado das palavras do mestre zen budista Shunryu Suzuki:
“Nossa vida e a nossa mente são a mesma coisa. Quando percebemos este fato, não tememos mais a morte nem temos verdadeiras dificuldades em nossa vida”
(Shunryu Suzuki – Mente zen, Mente de princpiante – ed. Palas Atenas)



ALEXANDRE SAIORO ministra para grupos e empresas o Programa de Redução do Estresse - A Arte do Estresse - baseado em metodologias utilizadas na área de desenvolvimento humano e organizacional e em métodos de meditação e contemplação da tradição budista.Para saber mais sobre o Programa vá até o final do Blog ou acesse: http://a-arte-do-estresse.blogspot.com/

E-mail: alexsaioro@hotmail.com

sexta-feira, agosto 20, 2010

COMO VIVER NESTE MUNDO IRRITANTE?


Atisha, um grande mestre budista indiano, quando foi para o Tibete levou com ele um atendente que era muito desagradável. Estava sempre muito mal disposto, resmungava com tudo e arranjava problemas com todas as pessoas do mosteiro. Além disso, era muito malcriado com o mestre. Indignados com a sua atitude os discípulos imploravam ao mestre que o mandasse embora, que o substituiriam no seu trabalho. Então Atisha respondia:
- E sem ele como é que vou treinar a minha paciência?
A yogue tibetana Machig Labdron recomendava aos seus alunos: “Aproxime-se daquilo que considera repulsivo, ajude aqueles que você acha que não pode ajudar e vá aos lugares que o assustam”. Esta recomendação tinha como objetivo treinar a mente para a liberdade.
Atualmente os discípulos de Atisha e Machig Labdron não precisam ir muito longe para encontrar este campo de treinamento. Nosso mundo hoje está envolto em um sistema de vida bastante irritante e perturbador.
Todos os dias somos bombardeados por situações que nos tiram a tranqüilidade e nos convidam para atitudes explosivas e raivosas ou nos faz perder o ânimo de ver um mundo mais justo, harmonioso e encontrarmos um pouco de paz.
Nos deparamos com estes elementos perturbadores na pessoa que pára o carro na rua e põe o som na maior altura, no vizinho que não respeita o horário de silêncio, nos furadores de fila e nos que não respeitam as leis mínimas para a convivência social. E quando pensamos que podemos encontrar algum sinal de melhoria em nosso sistema político-econômico-social, o que encontramos são políticos e governos corruptos ou insensíveis, empresários gananciosos e incompetentes que não respeitam o consumidor e jornalistas e empresas de comunicação que enganam a população com suas informações distorcidas e manipuladoras. O que vemos é uma luta constante em que cada um tenta levar a sua vantagem.
Com certeza se Atisha e Machig Labdron vivessem em nosso mundo de hoje Atisha não precisaria trazer nenhum atendente pra perturbá-lo e talvez o principal conselho de Machig Labdron para seus alunos seria: peça uma linha telefônica e depois espere a conta.
Mas, como viver neste mundo irritante?
Talvez, há muito tempo atrás (sabe-se lá quando) surgiu na mente de alguém que era possível, um dia, se chegar a algum lugar ou alguma situação em que se tivesse a completa paz e felicidade. E a ideia pegou.
Mas o problema é que cada um que pensou nisso tinha a sua idéia de paz e felicidade. E para piorar a situação, a tal ideia de paz e felicidade também mudava um pouco de tempos em tempos. Então sempre que alguém chegava perto da situação ideal imaginada, ela já não era tão ideal assim.
Até hoje a maioria de nós está nesta busca, mas parece que, de um modo geral, não tem dado muito certo. As pessoas mais felizes e em paz que conheci não tinham uma forma idealizada destes estados. A felicidade e a paz delas não dependiam de condições. Elas tinham encontrado uma liberdade tão grande que se sentiam a vontade em qualquer situação. Não havia mais exigências das coisas serem de um jeito ou de outro. Elas viviam presentes, momento a momento, em contato com a inteligência de cada situação, constantemente. Talvez elas tenham compreendido o que Dilgo Khyentse Rinpoche quis dizer com as seguintes palavras:
“As diversas atividades da vida comum seguem uma depois da outra como ondas no mar. Os ricos nunca acham que têm dinheiro suficiente. Os poderosos nunca acham que têm poder suficiente. Pense nisso: a melhor maneira de satisfazer todos os seus desejos e completar todos os seus projetos é abandoná-los todos.
Um ser realizado vê as preocupações das pessoas comuns como eventos de um sonho, e as observa como um velho homem olhando crianças brincarem. Na noite passada você sonhou, talvez, que era um grande rei, mas quando acordou, o que sobrou? O que você vivencia acordado dificilmente tem mais realidade que isso.
Em vez de perseguir esses sonhos de névoa, deixe sua mente descansar em serena contemplação, livre da agitação mental e da distração, até que a realização da vacuidade se torne parte integral de sua experiência.”

(Dilgo Khyentse Rinpoche, em “The Hundred Verses of Advice”)
Creio que antes de querermos entender o que estas palavras querem dizer, temos que procurar entender por que nos irritamos. Com certeza a irritação surge porque nos sentimos ameaçados e desconfortáveis. Mas o que é realmente este desconforto ou ameaça?
Todos os eventos perturbadores estão relacionados ou ao nosso corpo, ou a nossos pensamentos e sentimentos. E o que é isso tudo? De onde vieram e para onde vão?
Sem este tipo de investigação estaremos aprisionados por nossas fantasiosas ideias e esperanças de paz e felicidade. Estamos tão obcecados em obter e conquistar certas coisas e condições que nem nos passa pela cabeça perguntar como estamos conseguindo isso e o que são realmente estas coisas tão necessárias.
Talvez a nossa pergunta não deva ser como viver neste mundo irritante. Talvez mundo não seja irritante, mas sim a nossa mente. Uma mente onde reina o apego e a aversão é uma mente cheia de elementos irritantes.
O mundo depende do mundo, mas a sua mente depende só de você. E, no final, pode ser que eles sejam a mesma coisa.

ALEXANDRE SAIORO ministra para grupos e empresas o Programa de Redução do Estresse - A Arte do Estresse - baseado em metodologias utilizadas na área de desenvolvimento humano e organizacional e em métodos de meditação e contemplação da tradição budista.Para saber mais sobre o Programa vá até o final do Blog ou acesse: http://a-arte-do-estresse.blogspot.com/

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quinta-feira, agosto 19, 2010

MEDITAÇÃO NÃO É RELAXAMENTO


Meditação: o que significa esta palavra?
Se você fizer uma busca na internet, irá encontrar muitos significados para a palavra meditação. E cada significado vai corresponder a uma certa prática meditativa com resultados diferentes, apesar de muitas terem semelhanças em suas instruções.
Quando ouvimos a palavra meditação, precisamos entender que ela é usada de uma forma generalizada para muitos tipos de práticas que nem sempre poderiam ser chamadas de meditação. Muitos chamam de meditação certas práticas de relaxamento, mas meditação não é relaxamento.
Por exemplo, uma prática em que você procura focar a atenção na respiração pode trazer resultados completamente diferentes dependendo da visão de quem ensina esta técnica. Esta técnica pode proporcionar apenas uma forma de relaxar, mas não necessariamente de meditar. Dependendo da visão e da capacidade do professor esta técnica pode, além de relaxar, desenvolver a concentração e, indo mais além, pode ajudar a dissolver reações e condicionamentos emocionais que trazem muitos tipos de sofrimento. E o que define este resultado é a visão do professor. A visão e a capacidade de um professor são tão importantes que esta mesma técnica quando é usada apenas como um relaxamento pode, na verdade, reforçar as reações emocionais que nos causam tensão e estresse.
Muitas vezes o problema começa com a pessoa que quer aprender meditação, pois ela procura a meditação para um alívio imediato de algum tipo de sofrimento. Mas se o professor tiver habilidade, ele pode conduzir a prática para um resultado além. Ao mostrar uma perspectiva maior sobre a natureza do sofrimento, o professor pode ensinar como eliminar as suas reais causas.
A grande maioria das pessoas busca a meditação interessada em relaxar as tensões do cotidiano. Elas não se interessam muito em saber como e porque criam as tensões. Isso exige um pouco mais de trabalho e vontade de lidar com nosso interior; nossas crenças e emoções. Significa lidar com nosso egocentrismo, ou seja, com conflito entre eu e tudo aquilo que vejo que não sou eu. Se uma meditação não tem como perspectiva lidar com este dualismo, ela será apenas um alívio paliativo.
Por isso, é muito importante você, primeiramente, saber que resultado você busca com uma prática de meditação e, assim, escolher um professor que, realmente, oferece o que você está buscando.
Muitos pensam que meditação é apenas um exercício que fazemos sentados num lugar tranqüilo, observando a respiração, recitando algum mantra, fazendo visualizações ou nos concentrando em algum objeto para encontrar paz, parar o pensamento e se desligar as emoções. Mas, na verdade, só isso não ajuda muito, pois não traz uma mudança na nossa mente.
A palavra para meditação em tibetano significa “familiarizar-se com”. Quando pensamos, sentimos, falamos e agimos estamos nos familiarizando e reforçando mais e mais nossas visões das coisas. Desta forma, somos levados por nossas emoções e crenças e meditamos segundo o que elas nos dizem num círculo vicioso sem fim. Nós meditamos o tempo todo, só que de maneira errada.
Quando fazemos um exercício de meditação que nos leva somente a um estado de relaxamento, nós podemos até conseguir este objetivo por um certo tempo, mas vai chegar uma hora em que nós teremos que levantar e lidar com tudo aquilo que nos tira a paz e nos deixa com raiva, ciúme, medo etc. E aí?
Pode ser que o efeito temporário da “meditação” nos faça não reagirmos tão prontamente aos estímulos irritantes do mundo, mas, logo, esse efeito anestesiante passa e voltamos a loucura de sempre. Voltamos a nos envolver com nosso egocentrismo, reforçando as crenças e as emoções com que nos identificamos e que perturbam a paz experimentada. Ou seja, nós não mudamos a mente em nossa suposta meditação, apenas demos alguns minutos de descanso para nossa confusão. Certa vez, ouvi um mestre tibetano dizer que quando fazemos este tipo de prática relaxante, nós também damos um descanso para nossas emoções perturbadoras e depois, quando elas são estimuladas novamente elas voltam com mais força também.
É importante as pessoas interessadas em meditação saber que a meditação autêntica realmente envolve, inicialmente, o desenvolvimento da concentração que traz um relaxamento da mente, mas isso ainda não é meditação. Na meditação, tendo realizado esta capacidade de concentração e relaxamento, começamos a investigar nossas experiências, desconstruir crenças, desafiar nossas reações emocionais e hábitos de percepção que dita o que somos e o que é o mundo. É aí que a meditação começa e sabemos que ela está funcionando quando vemos a diminuição de nosso egocentrismo e o aumento de nossa compaixão. Este é o sinal do progresso numa meditação autêntica.
Iniciado este processo, tomamos as rédeas de nossa mente e podemos permitir que uma sabedoria incomum surja em nossas vidas. Com esta inteligência livre, não reativa e compassiva, podemos lidar com nossas experiências gerando menos sofrimento para nós e para os outros e aumentando nossa capacidade de trazer benefícios.

quinta-feira, outubro 15, 2009

PRINCÍPIO 90 / 10 - texto de Stephen Covey

Que princípio é este? Os 10% da vida estão relacionados com o que se passa com você, os outros 90% da vida estão relacionados com a forma como você reage ao que se passa com você.
O que isto quer dizer? Realmente, nós não temos controle sobre 10% do que nos sucede. Não podemos evitar que o carro enguice, que o avião atrase, que o semáforo fique no vermelho. Mas, você é quem determinará os outros 90%. Como? Com sua reação.
Exemplo: você está tomando o café da manhã com sua família. Sua filha, ao pegar a xícara, deixa o café cair na sua camisa branca de trabalho. Você não tem controle sobre isto. O que acontecerá em seguida será determinado por sua reação.
Então, você se irrita. Repreende severamente sua filha e ela começa a chorar. Você censura sua esposa por ter colocado a xícara muito na beirada da mesa. E tem prosseguimento uma batalha verbal. Contrariado e resmungando, você vai mudar de camisa. Quando volta, encontra sua filha chorando mais ainda e ela acaba perdendo o ônibus para a escola. Sua esposa vai pro trabalho, também contrariada. Você tem de levar sua filha, de carro, pra escola. Como está atrasado, dirige em alta velocidade e é multado. Depois de 15 min. de atraso, uma discussão com o guarda de trânsito e uma multa, vocês chegam à escola, onde sua filha entra, sem se despedir de você. Ao chegar atrasado ao escritório, você percebe que se esqueceu de sua maleta. Seu dia começou mal e parece que ficará pior. Você fica ansioso pro dia acabar e quando chega em casa, sua esposa e filha estão de cara fechada, em silêncio e frias com você.
Por quê? Por causa de sua reação ao acontecido no café da manhã. Pense: por que seu dia foi péssimo?
A) por causa do café?
B) por causa de sua filha?
C) por causa de sua esposa?
D) por causa da multa de trânsito?
E) por sua causa?
A resposta correta é a E. Você não teve controle sobre o que aconteceu com o café, mas o modo como você reagiu naqueles 5 minutos foi o que deixou seu dia ruim.
O café cai na sua camisa. Sua filha começa a chorar. Então, você diz a ela, gentilmente: "está bem, querida, você só precisa ter mais cuidado". Depois de pegar outra camisa e a pasta executiva, você volta, olha pela janela e vê sua filha pegando o ônibus. Dá um sorriso e ela retribui, dando adeus com a mão.
Notou a diferença? Duas situações iguais, que terminam muito diferente. Por quê? Porque os outros 90% são determinados por sua reação.
Aqui temos um exemplo de como aplicar o Princípio 90/10. Se alguém diz algo negativo sobre você, não leve a sério, não deixe que os comentários negativos te afetem. Reaja apropriadamente e seu dia não ficará arruinado.
Como reagir a alguém que te atrapalha no trânsito? Você fica transtornado? Golpeia o volante? Xinga? Sua pressão sobe? O que acontece se você perder o emprego? Por que perder o sono e ficar tão chateado? Isto não funcionará. Use a energia da preocupação para procurar outro trabalho. Seu vôo está atrasado, vai atrapalhar a sua programação do dia. Por que manifestar frustração com o funcionário do aeroporto? Ele não pode fazer nada. Use seu tempo para estudar, conhecer os outros passageiros. Estressar-se só piora as coisas.
Agora que você já conhece o Princípio 90/10 , utilize-o. Você se surpreenderá com os resultados e não se arrependerá de usá-lo. Milhares de pessoas estão sofrendo de um stress que não vale a pena, sofrimentos, problemas e dores de cabeça. Todos devemos conhecer e praticar o Princípio 90/10 .
Pode mudar a sua vida

quarta-feira, maio 16, 2007

A VIDA COMO UM ESPORTE RADICAL

por Alexandre Saioro 
Devemos nos familiarizar com os elementos perturbadores inerentes à nossa realidade e, desta forma, desfazer as reações inadequadas quenos trazem mais confusão e sofrimento.
No livro “A Mente Alerta”, no capítulo "Você não pode parar as ondas, mas pode aprender a surfar” o autor, Dr. Jon Kabat–Zinn lembra que esta frase, escrita num pôster onde aparecia o yogue Swami Satchitananda sobre uma prancha de surf nas ondas de uma praia havaiana, apreende muito bem o espírito da prática da meditação.
Eu diria também que esta mensagem simples nos coloca diretamente em contato com a natureza “radical” de nossas vidas. Costumo dizer que a vida é como um esporte radical. Temos que estar preparados para as mudanças, os imprevistos e os desafios que sempre surgem. Não temos como fugir. Não temos como parar as ondas, mas podemos aprender a lidar com elas de uma forma positiva e criativa.
Se quisermos surfar uma onda, escalar uma montanha, voar de asa delta ou, simplesmente, andar de bicicleta, precisamos desenvolver uma grande capacidade de atenção, receptividade e flexibilidade para responder adequadamente às situações do momento presente.
Imagine um surfista que não tenha atenção, receptividade e flexibilidade para lidar com as ondas que surgem, com seus movimentos imprevisíveis? Imagine um surfista reclamando da onda que não veio como ele esperava, se irritando ou se culpando e enquanto isso, novas ondas surgindo e ele lá indignado e magoado. Com certeza esse surfista, perturbado pelas suas emoções, não conseguiria surfar direito e ainda correria o risco de se machucar.
A mesma coisa podemos falar do alpinista que não aceita o relevo da montanha que está escalando ou do cara de asa delta que não aceita as mudanças dos ventos, perdendo não só a atenção e a concentração como também todo o prazer de estar voando. Quantas vezes nós não aceitamos e entramos em conflito com as mudanças da vida, perdendo nossa criatividade e até mesmo o prazer de estar vivo?
Se quisermos surfar ondas, escalar montanhas ou voar de asa delta temos que desenvolver determinadas competências para lidar com os processos imprevisíveis dessas atividades.
Com relação à vida é a mesma coisa. Devemos desenvolver determinadas competências emocionais, de forma a nos familiarizar com os elementos perturbadores de nossas experiências e, assim, desfazer as reações inadequadas que nos trazem mais confusão e sofrimento. Com isso, mesmo sabendo que não teremos resposta para tudo, antecipadamente desenvolvemos a clareza e a confiança que poderão nos sustentar nas situações mais extremas.

PREPARANDO-SE PARA O GRANDE VÔO
Portanto, é importante nos prepararmos para situações perturbadoras, tanto aquela em que você tem uma decepção com alguém, como para a maior situação perturbadora da vida: o momento da morte.
Nós sabemos que isso um dia vai acontecer, seja a decepção ou a morte, mas mesmo assim não nos preparamos para essas experiências, achando que elas ainda estão longe. Mas, será? É como se você soubesse que um dia vai voar de asa delta, mas não sabe quando e fica protelando começar seu treinamento. Então, um dia te colocam diante de um precipício com as asas e te falam: “Vai, corre e voa!”
Aproveitar os momentos em que nossa mente está mais tranqüila e lúcida para contemplar as mudanças que ocorreram, ocorrem ou ocorrerão em nossas vidas e nos familiarizar com elas de uma forma receptiva e flexível pode nos ajudar a expandir nossa criatividade e relaxamento. Desenvolver a plena atenção, sem julgamentos, através de práticas como a meditação, ajuda a ampliar nosso espaço mental para não sermos vítimas de nossas reações emocionais condicionadas.
As mudanças e as ondas não param e se não estivermos prontos para lidar com elas, emoções perturbadoras como o apego, a raiva e o medo podem nos meter em apuros.
Nós estamos num mar que se chama Vida com suas ondas, seus contornos, movimentos e mudanças, assim como o seu fim imprevisível.
Como me disse um amigo surfista: “Quando você está no mar em cima de uma onda, ficar com a mente no passado ou no futuro é perder a onda, a capacidade e o prazer de surfar”.

ALEXANDRE SAIORO ministra para grupos e empresas o Programa de Redução do Estresse - A Arte do Estresse - baseado em metodologias utilizadas na área de desenvolvimento humano e organizacional e em métodos de meditação e contemplação da tradição budista.Para saber mais sobre o Programa vá até o final do Blog.
E-mail: alexsaioro@hotmail.com

quinta-feira, dezembro 14, 2006

DOR É DOR, PRAZER É PRAZER

A criança corria na calçada e num descuido caiu, machucou a perna e começou a chorar de dor. A mãe ao socorrê-la, imediatamente, começou a falar: Já passou, já passou...e eu pensava: não mãe, não passou.
A criança, meio que sem opção diante da insistência da mãe em dizer que "já passou", ia diminuindo o choro, mas, com certeza, ainda sentindo a dor.
Parecia que a mãe estava mais preocupada em fazer seu filho parar de chorar, talvez, para se sentir mais aliviada, do que ajudá-lo e acompanhá-lo na experiência inevitável da dor. Na hora, me deu vontade de perguntar se ela já tinha ralado a perna daquele jeito para saber como dói e que esta dor não passa assim tão rápido. Mas me contive e fui embora.
Parece que desde pequenos somos ensinados a não encarar a dor. E isso vai seguindo durante a vida até o momento de nossa morte onde, creio eu, não teremos mais como fugir da realidade. Nas diversas dores que experienciamos durante a vida, acabamos tendo a atitude de não encará-las. Arrumamos sempre alguma explicação ou interpretação da realidade da dor para nos confortarmos. Não suportamos nos render ao simples fato. Nosso eu precisa dar um sentido, pois o sentido nos dá a sensação que estamos no controle da situação.
Quando somos crianças e sentimos dor a nossa mãe nos ensina que "já passou", enquanto ainda sentimos dor. Ao crescermos mais um pouco nos esquivamos de nossas dores com outras formas de "já passou". Comemos, fazemos compras, nos embriagamos, fazemos sexo, trabalhamos, viajamos, enfim fazemos qualquer coisa que nos tire da angústia da dor. Procuramos filosofias que nos digam que tudo é um "aprendizado" para não repetirmos aquela situação, que estamos purificando "carma", que da próxima vez vai ser diferente etc...
Mas acho que o único aprendizado que podemos ter com a dor é aprender a ficar com ela sem interpretações, sem esperanças. Desta forma, ao nos abrirmos para a dor, podemos descobrir que ela é real, que a dor dói e que podemos deixá-la desenrolar-se completamente sem estratégias de fuga. Talvez assim, possamos até descobrir a sua irrealidade, sua não solidez, mas não veja esta possibilidade como uma esperança. É como morrer.
Como diz Chogyam Trungpa Rinpoche sobre a morte:
"A morte é a experiência desolada na qual nossos padrões habituais não podem continuar como gostaríamos que continuassem. Nossos padrões habituais param de funcionar. Uma nova força, uma nova energia, nos toma, que é a natureza da morte, ou da descontinuidade. É impossível focar esta descontinuidade de qualquer ângulo. Esta descontinuidade é algo com que você não pode se comunicar, porque você não consegue agradar esta força em particular. Você não pode ser amigo dela, você não pode ludibria-la, não pode convencê-la a qualquer coisa. É extremamente poderosa e sem compromissos.
O fato dela não se comprometer também impede as expectativas para o futuro. Temos nossos planos — projetos de todos os tipos em que gostaríamos de trabalhar. Mesmo se estivéssemos entediados com a vida, nós ainda gostaríamos de sermos capazes de recuperar aquele tédio. Há uma esperança constante de que algo melhor possa surgir das experiências dolorosas da vida, ou que possamos descobrir alguma maneira nova de expandir as situações prazerosas. Mas a sensação de morte é muito poderosa, muito orgânica, muito real."
Chogyam Trungpa, "Crazy Wisdom" – Shambala Publications
Em nossas pequenas mortes cotidianas estamos sempre procurando por uma resposta com nossas crenças e esperanças. Não paramos para pensar que talvez todo este sentido de esperança que queremos dar em nossas experiências seja o único obstáculo que nos impede de tocar a verdadeira natureza de nós mesmos.
Nos sentimos o tempo todo compelidos a dar uma resposta, um próximo passo, a dar a continuidade que Chogyam Trungpa fala. E se não déssemos? O que aconteceria? Talvez caíssemos no agora, no simples e puro agora, sem futuro, sem a busca de soluções. E aí?
Sem soluções qual seria o problema?
Pode ser assustador ver seu filho chorando por ter se ferido, mas creio que é bem melhor acolhê-lo com a realidade da dor do que tentar iludi-lo com a mentira do seu medo da dor. Pode ser assustador ver a vida te arrancar os elementos que traziam tranquilidade, paz e amor para sua existência, mas conseguir relaxar nesta situação pode ser a chave para descobrirmos a pura simplicidade.
Certa vez, ao terminar um retiro, um de meus professores Jigme Tromge Rinpoche recomendou a todos nós: "Tenham uma vida simples".
Refletindo sobre este conselho e conhecendo a vida de Rinpoche que viajava por várias partes do mundo dando ensinamentos, envolvido em vários projetos e vendo que a vida dele não era, aparentemente, nada simples, me perguntava o que era essa simplicidade que ele falou.
Então percebi que este ser simples estava muito mais ligado a uma certa disponibilidade e liberdade para viver o que é o agora, seja ele alegre, dinâmico e agitado ou triste, quieto e morno, do que na busca de realizar alguma visão ideal, tranquila e prazerosa de viver que, na verdade, nos aprisiona e complica mais ainda tudo!
Ou seja, a dor é dor, prazer é prazer e isto é isto... simples.
Como diz Gedun Rinpoche:
"Faça uso desta espaçosidade, desta liberdade e bem-estar natural.

Não procure mais qualquer coisa.
Não vá para a floresta confusa
Procurar pelo grande elefante desperto
Que já está descansando quietamente em casa,
Na frente de sua própria lareira."

ALEXANDRE SAIORO ministra para grupos e empresas o Programa de Redução do Estresse - A Arte do Estresse - baseado em metodologias utilizadas na área de desenvolvimento humano e organizacional e em métodos de meditação e contemplação da tradição budista.
Para saber mais sobre o Programa vá até o final do Blog.
E-mail: alexsaioro@hotmail.com

domingo, outubro 01, 2006

CAMINHANDO COM A DOR


Há alguns anos atrás, ao participar de um retiro de meditação longo e intensivo, me deparei com um dos desafios que todo meditador se depara: a dor física. Era a primeira vez que fazia um retiro tão longo e com tantas horas de meditação sentada. Na primeira semana o desconforto físico era tolerável, mas a partir do décimo dia as coisas começaram a ficar mais “sérias”. Meu joelho estava em frangalhos. Mesmo quando não estava sentado meditando meu joelho doía e aquilo estava me preocupando. Eu pensava: “O que está acontecendo com meu joelho? Será que houve alguma lesão grave?”.
Nas sessões de meditação percebia a presença desses pensamentos. E através dessa percepção atenta vi como que a sensação de que algo estava errado perturbava não só minha mente, mas, também, o meu corpo que respondia à dor como sofrimento.
Com o desenvolvimento da meditação um relaxamento natural trouxe uma certa liberação do sofrimento onde não havia mais a perturbação pela experiência da dor. Havia apenas a dor como um fato natural, como os sons do ambiente, a luz do sol que entrava na sala de meditação, o latido do cão do lado de fora e a respiração. Percebi como que o problema com o sofrimento não era a dor, mas minha reação a ela. Quando minha mente relaxou com relação as minhas suposições sobre a dor e eu apenas fiquei ali com a dor, não havia mais sofrimento. Poderia dizer que a dor não era mais dor, mas uma experiência corporal em movimento onde a percepção das mudanças das sensações a tornavam um elemento de despertar a mente.
Os mestres de meditação sabem que um dos maiores apegos que temos é o conforto físico. E que o lidar com o desconforto e a dor pode ser uma grande prática para irmos além de nossas visões errôneas da realidade.
Quando observamos e não cedemos ao impulso de mudar a situação, podemos investigar a verdadeira natureza daquela sensação e descobrir sua não solidez e impermanência. Podemos ver que tudo está mudando o tempo todo. Se não fazemos isso reafirmamos uma visão parcial e ilusória da realidade.
A SABEDORIA DA COCEIRA
Por exemplo, quando sentimos uma coceira, instantaneamente coçamos sem muita consciência do movimento e de nossa reação. Mas se tivermos a plena atenção para observar a coceira, sem reagir, veremos que ela é constituída de diversas sensações que mudam e por fim desaparecem por si. Mas nós nunca fazemos isso e nossa reação comum é coçar, o que muitas vezes irrita mais ainda o local da coceira e, o pior de tudo, faz com que nos acostumemos a não tolerar o mínimo desconforto. Quando reagimos a um desconforto procurando eliminá-lo, reforçamos nossa intolerância e fragilidade diante dessas sensações. O mesmo podemos dizer com relação as nossas emoções.
Como diz Tara Bennet-Goleman em seu livro “Alquimia Emocional” (ed. Objetiva)“No caso de uma emoção como a raiva, o fato de sustentarmos a atenção pode nos oferecer outro insigth crucial: se conseguirmos permanecer com a raiva por tempo suficiente, nós a veremos transformar-se em algo diferente – dor, tristeza, qualquer outro sentimento – ou até mesmo se dissolver. O que parecia tão sólido se desintegra, é transformado. A chave repousa em permanecermos com a experiência através de todas as mudanças.”
Se conseguimos permanecer na experiência, sem reagir, vemos que aquilo que pensávamos ser alguma coisa sólida e absoluta se desfaz de forma natural e inofensiva na mente espaçosa da plena consciência. Talvez a dor, a doença e a situação não mudem, mas a relação com esses fatos pode mudar. Mesmo que a situação externa não seja curada ou resolvida VOCÊ pode se curar, se resolver e vivenciar os fatos, seja eles quais forem, de forma receptiva, livre e porque não dizer feliz.
É muito mais útil que sua percepção mude e traga mais espaço e liberdade para viver “o que é”. Essa é a verdadeira conquista. Quando reconhecemos que estamos mirando o alvo errado ao lidar com problemas e devotamos todo o nosso tempo e energia na busca de uma conquista e mudança interiores, aí então podemos começar a descobrir o que é paz e felicidade.
ALEXANDRE SAIORO ministra para grupos e empresas o Programa de Redução do Estresse - A Arte do Estresse - baseado em metodologias utilizadas na área de desenvolvimento humano e organizacional e em métodos de meditação e contemplação da tradição budista.
Para saber mais sobre o Programa vá até o final do Blog.
E-mail: alexsaioro@hotmail.com

UM MUNDO SEM CHÃO


Ao olharmos para nós mesmos, veremos que somos um conjunto de coisas que não temos muito controle.
São muitas as variantes que influenciam nossa vida. Há elementos orgânicos, ambientais, psicológicos, espirituais e sabe-se lá mais o que. E o pior de tudo é que somos quase que completamente ignorantes sobre esses elementos e suas interações.
Podemos dizer que vivemos praticamente para conquistarmos cada vez mais controle sobre nossas experiências, de forma que elas nos tragam mais satisfação e menos sofrimento. Pode ser que, por um determinado tempo, sintamos que temos algum controle sobre as coisas, mas, ao final, veremos que não temos. Não temos controle sobre as situações e sobre os outros e em muitos momentos (para não dizer na maioria) não temos controle nem mesmo sobre nossos pensamentos, sentimentos assim como sobre nosso corpo.
Pensamos uma coisa, sentimos outra e nosso corpo reage de uma forma completamente diferente de tudo isso.
Muitas também são as interpretações que temos sobre como as coisas funcionam. Visões médicas, religiosas, filosóficas, psicológicas e esotéricas permeiam tudo que achamos sobre nós mesmos e sobre o mundo e, ao que parece, o que realmente conta para que algo funcione no final é a nossa fé em alguma dessas visões. E como podemos observar mesmo os nossos “objetos” de fé mudam algumas vezes em nossa vida.
Nossa segurança é sempre temporária e frágil diante de nossa ignorância. E nós não gostamos de saber isso.
Mas talvez seja a própria consciência de nossa ignorância que pode trazer uma lucidez maior para nossas vidas. E na maioria das vezes esta consciência é despertada nos momentos difíceis quando algo sai fora do lugar e não se encaixa naquilo em que acreditamos.
Há momentos em que a vida nos surpreende com experiências que nos tiram o chão. Enquanto o chão estava apenas se movendo podíamos dançar com o seu movimento. Havia um certo desconforto, mas ainda havia chão. Mas quando não se tem nem mais chão para dançar, o que podemos fazer?
Creio que quando o sofrimento nos encurrala e não temos mais para onde ir só podemos contar com uma coisa: a compaixão. Não a compaixão dos outros, pois não há como garantir que a teremos e também este não é o caso em que a compaixão dos outros funciona muito bem. O que realmente podemos contar nessas horas é a compaixão que temos para conosco mesmo e para com os outros. Ou seja, a compaixão para com todos que compartilham esta nossa ignorância básica neste mundo sem chão.
É bom esclarecer que o significado de compaixão aqui não se relaciona a um estado de pena que temos dos outros ou de nós mesmos e que reforça mais ainda nossa experiência de isolamento e separação.
A compaixão nasce da compreensão de que nossas experiências não são isoladas e existentes por si mesmas. Percebemos que há uma interdependência entre tudo e todos. E que a idéia de independência é uma ilusão.
Neste sentido, podemos dizer que nossas experiências pessoais são vazias de uma realidade absoluta e compreendemos a natureza relativa de tudo que vivemos. Desta forma, nos vemos inseridos num mundo de comunhão onde nosso eu (com tudo que achamos) já não é a coisa mais importante. Na verdade, ao procurarmos este “eu” vemos que ele se parece mais como um sonho. Este estado, ao mesmo tempo, de vazio e plenitude abranda e aquece nosso coração nos dando a coragem necessária para darmos o próximo passo, mesmo que seja na direção daquilo que nos assusta.
Talvez, bem aí neste ponto, possamos descobrir uma base em que podemos relaxar. Uma base sem chão que ao revelar ao mesmo tempo a mistura de confusão e sabedoria que todos nós somos, nos situa na condição básica de nossa existência humana, capaz de permanecer completamente receptivo ao maravilhoso e assustador momento do agora.
Desta forma, como uma gota que se dilui no oceano, nosso eu pode relaxar nas experiências tanto de prazer como de dor.
Nada é garantido. Continuamos na incerteza, sem chão, a dor nos ronda e pode nos envolver em muitos momentos, mas optamos por ficar. Ficamos pela nossa cura e pela cura de todos que como nós sofrem nesse exato momento. Nossa capacidade de resistência e de transformação do sofrimento se potencializa no amplo ambiente espaçoso da compaixão, onde podemos reconhecer a capacidade de abraçar tudo e todos neste nosso mundo sem chão

ALEXANDRE SAIORO ministra para grupos e empresas o Programa de Redução do Estresse - A Arte do Estresse - baseado em metodologias utilizadas na área de desenvolvimento humano e organizacional e em métodos de meditação e contemplação da tradição budista.E-mail: alexsaioro@hotmail.com

sábado, setembro 16, 2006

APRENDENDO A LIDAR COM O INEVITÁVEL




Assim como o surfista não entra em conflito com as ondas do mar e faz disto uma arte, podemos surfar as ondas do estresse e, até, nos divertir bastante.

ALEXANDRE SAIORO

Atualmente muito se fala sobre estresse, sobre como que as diversas situações da vida nos deixam estressados. Pensamos que poderíamos não ficar dessa maneira se as coisas acontecessem de forma diferente; assim, acreditamos que ajustando as situações externas poderíamos nos sentir mais relaxados e confortáveis. Mas será que isto é real? Haverá esta situação em que nada estará nos pressionando?
Se formos sinceros conosco mesmo veremos que a vida, como sempre a conhecemos, é estresse. Nascemos no estresse, na pressão e no resto de nossas vidas o estresse é o chão que pisamos, um chão que está mudando constantemente. Em nosso cotidiano vivemos mudanças, acidentes, surpresas; temos expectativas, exigências, compromissos, responsabilidades e necessidades. Tudo isso em certa medida significa estresse.
Estresse é definido pela Física como “pressão externa aplicada a um objeto”; o resultado dessa pressão é denominado “deformação”.
Se você faz pressão numa chapa de metal, dependendo da força exercida e do tipo de metal, você terá uma certa deformação. Quando falamos do estresse que sentimos sempre há uma confusão, pois acabamos nos referindo tanto à pressão quanto ao efeito dela sobre nós, a deformação que ela nos causa - os inúmeros sintomas. Esta deformação/sintomas são determinados pela nossa capacidade de resistir, se adaptar e nos recuperar da pressão que sofremos.
O estresse ou a pressão em si não é um mal. É um fato. A questão está em como lidamos com este fato, como reagimos à pressão; se ela é um impulso para um vôo criativo ou um empurrão para o abismo do embotamento. A diferença de respostas depende das nossas esperanças e medos, e isto tem a ver com nossas crenças e valores.

PRESSÕES EXTERNAS E INTERNAS

“O estresse é mais do que uma simples reação de causa e efeito. A dimensão interna desse processo – nossas percepções, expectativas, crenças e necessidades – são também um elemento fundamental na equação.” Peter Russel – “O Empresário Criativo” – Ed. Cultrix )

De onde vem o estresse, a pressão? De dentro ou de fora de nós mesmos?
A maioria das abordagens ao controle do estresse nos sugere que 1. Controlemos as suas causas externas e 2. Busquemos algum tipo de alívio com relação aos seus efeitos. Nessas abordagens, muitas sugestões são úteis até um certo ponto, mas não chegam na raiz do problema. Praticar esportes, relaxamento, ter mais lazer, gerenciar melhor o tempo, se alimentar e dormir adequadamente podem, sem dúvida, trazer algum alívio ao estresse. Mas se não tocarmos em questões mais fundamentais de nossas vidas, para que possamos nos libertar de nossas limitações interiores e aprender a lidar melhor com as mudanças e pressões do dia-a-dia, estaremos apenas lidando com o problema de forma paliativa.
Para tocarmos no âmago do problema do estresse, precisamos investigar nosso mundo interior: a nossa mente. E para isto, precisamos desafiar primeiramente nossas crenças numa vida sem mudanças, sem desconforto e... sem estresse. Estas são ilusões que alimentamos a todo instante e que, ironicamente, acaba nos causando ainda mais estresse.
Quando lidamos com o estresse de forma direta e aberta, podemos vê-lo como uma preciosa oportunidade para expandir nossa mente e ir além dos limites impostos por hábitos mentais e emocionais inadequados. Dessa forma, podemos descobrir uma liberdade natural para lidar com o que quer que seja; transformando cada situação de dor ou de prazer numa oportunidade para despertar nossa sabedoria e amor inerentes.
Assim como o surfista não entra em conflito com as ondas do mar e faz disto uma arte, podemos surfar as ondas do estresse e até nos divertir bastante.

Alexandre Saioro ministra para grupos e empresas o Programa de Redução do Estresse - A Arte do Estresse - baseado em metodologias utilizadas na área de desenvolvimento humano e organizacional e em métodos de meditação e contemplação da tradição budista.
E-mail: alexsaioro@hotmail.com

quinta-feira, setembro 14, 2006

A ARTE DO ESTRESSE


O Programa de Redução do Estresse – A ARTE DO ESTRESSE tem como propósito prevenir e reduzir os efeitos nocivos da tensão e do estresse emocional através de práticas que capacitem as pessoas estabelecer uma nova maneira de vivenciar as pressões e os desafios do dia-a-dia.
Utilizando métodos de reflexão, contemplação e meditação o trabalho constitui de um processo de investigação e transformação dos hábitos mentais e emocionais que regem nossas experiências de vida, convidando seus participantes a explorar uma forma mais consciente e autêntica de viver e, desta forma, desenvolver uma maior habilidade para lidar com o estresse.

SOBRE O PROGRAMA

O Programa A ARTE DO ESTRESSE é baseado em metodologias utilizadas na área de desenvolvimento humano e organizacional e práticas de meditação e contemplação.
Tem como base científica e bibliográfica as visões de Daniel Goleman (Inteligência Emocional – Ed. Objetiva) e de sua esposa Tara Bennett-Goleman (Alquimia Emocional – Ed. Objetiva); o trabalho desenvolvido pelo Dr. Jon Kabbat-Zinn (A Mente Alerta – Ed. Objetiva) no Centro Médico da Universidade de Massachussetts e os estudos registrados nos encontros do The Mind Life Institute entre Sua Santidade o Dalai Lama e cientistas ocidentais publicados nos livros “Mente e Ciência” – Ed. Relógio D´água (Portugal), “Emoções que Curam” – Ed. Rocco e “Como Lidar com Emoções Destrutivas” – Ed. Campus.

O Programa pode ser realizado para grupos abertos ou empresas podendo ser adaptado segundo a disponibilidade de horários com encontros semanais ou mensais.
São fornecidos apostilas de orientação e reflexão para as práticas.

DEPOIMENTOS DE PARTICIPANTES DO PROGRAMA

COMENTÁRIO DA Dra. MARTA MURAT FRANCO, PSICANALISTA. TRABALHA NO MINISTÉRIO DA SAÚDE HÁ 21 ANOS, LOTADA NO PAM PSIQUIÁTRICO/CENTRAL - RIO.

“O Programa de Redução de Estresse foi um divisor de águas na minha vida. Um bálsamo. Uma reconstrução. Aprendi uma forma nova de relaxar, concentrar e ampliar minha mente, mesmo estando em situações adversas ou em ambientes desfavoráveis, como trânsito engarrafado, tomada rápida de decisões, notícias ruins e avião decolando (morro de medo). Na verdade em situações quando mais se precisa. Aprendi a observar meus impulsos e a criar um espaço entre a ação e reação. Ganhei mais serenidade, confiança e independência. Tenho conseguido, de fato, viver o momento presente ao invés de me preocupar com o que não posso mesmo controlar. Os relacionamentos interpessoais tornaram-se mais suaves, a vida menos trágica e mais real. Adquiri um novo sentido da existência, mais descentrada de mim. No meu trabalho como psicanalista, adquiri novas alternativas para compreender e intervir.Tudo isso não é um passe de mágica. É preciso disciplina e dedicação cotidiana para praticar, para resgatar algo que já existe em cada um de nós, mas está coberto por camadas e mais camadas de enganos.Alexandre Saioro consegue, com a generosidade que possui e com a força de quem vive o que ensina, transmitir com muita clareza e propriedade.”

***

COMENTÁRIOS DO Dr. CHAMBERLAIN NOÉ, MÉDICO E DIRETOR DO HOSPITAL SÃO LUCAS DE NOVA FRIBURGO, SOBRE O PROGRAMA DE REDUÇÃO DO ESTRESSE REALIZADO NO HOSPITAL EM MAIO E JUNHO DE 2001.

“Foram realizadas oito palestras, uma por semana, com duração média de noventa minutos cada uma. O expositor orientou e exercitou a prática da meditação enfatizando o seu valor no relaxamento e tranqüilidade da mente. Ao final de cada palestra se realizavam práticas de meditação por todos os presentes sob orientação do palestrante.
Além disso, foram discorridos temas inerentes a filosofia budista, ou seja, os malefícios que causam à criatura humana os comportamentos mentais negativos como o ódio, a vingança, o desamor, a avareza e os benefícios dos comportamentos positivos como o amor, a bondade, a compaixão, o desprendimento. Foram tecidos, também, comentários sobre o sofrimento e a morte, visando maior compreensão da vida. A tese da impermanência foi desenvolvida com muita propriedade e objetividade.
A somação de todas essas informações e práticas levaram aos presentes uma valiosa contribuição no combate ao estresse pelo fortalecimento do comportamento mental e emocional. Assim, com a abolição ou diminuição do estresse, o rendimento profissional, mormente na área de saúde, se torna pleno e agradável quando sabemos que é o cliente estressado e depressivo quem mais procura o recurso médico.”

***

COMENTÁRIO DA Dra. MARIA CECÍLIA DE CARVALHO TRÓIA, MÉDICA E PSICOTERAPEUTA.
Dra. CECÍLIA TRABALHOU NO INSTITUTO DE PSIQUIATRIA DA UFRJ, DURANTE 17 ANOS E NO HOSPITAL GERAL DE BONSUCESSO ONDE FOI CHEFE DO SETOR DE SAÚDE MENTAL POR 5 ANOS, CRIOU E COORDENOU O SETOR DE SAÚDE MENTAL DO HOSPITAL MATERNIDADE DE NOVA FRIBURGO.
ATUALMENTE ELA ATENDE NO SEU CONSULTÓRIO PARTICULAR E PARTICIPA DE CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE DE NOVA FRIBURGO.

“Ter feito o Programa de Redução de Estresse, as práticas, as reflexões e os temas abordados que nos trazem novas percepções das circunstâncias que estamos envolvidos no dia-a-dia, foi uma grande oportunidade de aprender a acalmar e abrir a mente a partir de outras vias que não as comuns como tranqüilizantes, religiões, livros de auto-ajuda etc. Eu sinto que esse trabalho pode trazer muitos benefícios para as pessoas, trazendo um contato maior consigo mesmo, com seu potencial e com esse espaço da mente, para nós, desconhecido.
Se eu fosse falar dos benefícios e experiências que esse trabalho me trouxe talvez eu teria que falar por muito tempo, muitos episódios. Na troca do grupo que participei, eu percebi como nos beneficiamos com a experiência do outro, ganhando uma nova estrutura para neutralizar as influências externas e aprendendo a canalizar o nosso potencial em benefício de todos.
Como profissional da área de saúde, eu acho que já é hora de se abrir espaços para trabalhos como esse para podermos lidar melhor com o sofrimento, com a morte e com os desafios de auxiliar o outro. Eu senti que foi uma grande oportunidade de ter tido contato com o conteúdo do Programa, as práticas, me abrindo um leque de opções nessa busca de um bem-estar para si mesmo e para o próximo.”

***

COMENTÁRIO DO Dr. PEDRO GOUVEIA TEIXEIRA, MÉDICO E ACUPUNTURISTA. Dr. PEDRO FOI DIRETOR DO CENTRO DE SAÚDE CARLOS ANTONIO DA SILVA DE NITERÓI, CHEFE DO SERVIÇO DE EPIDEMIOLOGIA DA SECRETARIA DE SAÚDE DOS MUNICÍPIOS DE NOVA FRIBURGO E DE BOM JARDIM. ATUALMENTE É PROFESSOR DO NÚCLEO DE MEDICINA TRADICIONAL CHINESA DA UFF.

“Para mim esse trabalho foi um grande desmistificador. Eu vi como que certas coisas que eram uma montanha de problemas não são mais. Hoje quando eu converso com algumas pessoas que me falam de seus problemas vejo como que no passado eu me perturbava com aqueles problemas. Hoje com as práticas e a nova visão que elas nos proporciona, vejo que a montanha não é tão grande assim. Isso nos dá a possibilidade de ao mesmo tempo estar do lado da pessoa, compreendê-la, procurar ajudá-la, mas não entrar no sofrimento dela. Para mim que sou médico me ajudou muito. É comum na prática médica o médico entrar no sofrimento do seu paciente e se algo não dá certo isso traz um sofrimento uma sensação de tristeza e impotência que influencia nos próximos passos a seguir no tratamento.
Eu vejo que esse trabalho nos faz ver a vida com mais serenidade, mais simplicidade e mais presença. Com o Programa eu me vi com muito mais capacidade de realizar meu trabalho como médico. Tenho tido muito mais alternativas de auxiliar o paciente, com mais ferramentas que podem aliviar o sofrimento do outro, mesmo em situações de doenças terminais.
Eu tive recentemente pacientes terminais e eu vi como eu pude ajudar muito mais esses pacientes do que no passado. Na minha experiência pessoal, há poucos meses meu pai faleceu e esse trabalho me ajudou muito na hora da morte dele e no apoio da minha família.
Eu acho que trabalhos como esse nos auxiliam muito, particularmente na área médica trazendo ferramentas para o médico lidar com a doença, o sofrimento. Para o paciente é um auxílio na cura e, principalmente, na prevenção de doenças.”

O QUE É A ARTE DO ESTRESSE?

O nome A Arte do Estresse sugere a possibilidade de descobrir a nossa lucidez, sabedoria e integridade básica em cada situação de confusão, desconforto e dor que possamos vivenciar.
Assim como um surfista utiliza o poder das ondas do mar para manifestar sua prazerosa criatividade a Arte do Estresse é um aprendizado que desenvolve a habilidade de “surfar” as ondas do estresse e ver que ele pode ser uma forma de ampliar nosso potencial criativo, nossa liberdade e nosso destemor.
A maioria das abordagens de redução do estresse nos sugere que controlemos as suas causas e busquemos algum tipo de alívio com relação aos seus efeitos. Nessas abordagens, muitas sugestões são úteis até um certo ponto, mas não chegam na raiz do problema.
Utilizar medicamentos, praticar esportes, técnicas de relaxamento, se dar mais horas de lazer, gerenciar melhor o tempo, se alimentar e dormir adequadamente e fazer massagens e práticas corporais terapêuticas são algumas das formas de trazer algum alívio ao estresse. Mas se não nos libertamos de reações e hábitos emocionais inadequados que são as fontes geradoras de um sistema de vida estressante, estaremos apenas lidando com o problema do estresse de forma paliativa.
Para lidar com o estresse precisamos compreender a sua natureza. Precisamos compreender que, antes de tudo, estresse é pressão. Pressão que se manifesta em situações de desafios, surpresas, responsabilidades, riscos e oportunidades e isso nós sempre teremos em nossas vidas. A questão está em sermos capazes de não permitirmos que estas pressões nos causem deformações.
Por exemplo, quando fazemos uma pressão numa chapa de metal ela enverga segundo sua flexibilidade e resistência a pressão (estresse). Se a pressão ultrapassa o limite de flexibilidade e resistência da chapa ela sofre uma deformação. Desta forma, precisamos entender como as “pressões” atuam em nossa mente gerando “deformações” e aprender a ampliar nossa capacidade de resistência e flexibilidade.
É com este raciocínio que o Programa, através de seus métodos, possibilita que aprendamos atravessar o estresse e ir além dele.
Ao aprendermos a investigar os processos reativos que nos dominam através do desenvolvimento da plena consciência e da compaixão, criamos mais espaço mental para a criatividade em nossas experiências, vivenciando menos conflitos nas inevitáveis pressões que encontramos em nosso cotidiano. Desta forma, podemos, até mesmo, utilizar o efeito dessas pressões para dar um salto substancial em nossa qualidade de vida.
Como diz o Dr. Jon Kabatt-Zinn, criador e coordenador do Centro de Redução de Estresse no Centro Médico da Universidade de Massachusetts (EUA) e que utiliza a meditação como auxiliar no tratamento de diversas doenças:
“Vamos ensinar vocês a ficarem tão relaxados que ficar tenso será aceitável.”

Os métodos utilizados no Programa A ARTE DO ESTRESSE envolvem práticas e exercícios de reflexão, contemplação e meditação que trabalham com os seguintes pontos:

- Desenvolver a Plena Consciência fortalecendo, assim, qualidades interiores como a paciência, a concentração, a receptividade, a flexibilidade e a clareza mental necessários para uma visão criativa dos fatos e de nossos relacionamentos.

- Entrar em contato com nossos valores e princípios pessoais, desenvolvendo um propósito de vida claro que nos oriente em nosso cotidiano e expanda o significado de nossas atividades e experiências.

- Compreender e desenvolver a compaixão como forma de trazer mais empatia e habilidade em nossa comunicação interpessoal e aprender a lidar com experiências perturbadoras utilizando-as como uma oportunidade de transformar hábitos negativos e gerar atitudes benéficas para si mesmo e para os outros.


SOBRE O MINISTRANTE

Alexandre Saioro - desenvolve trabalhos com grupos desde 1984, tendo participado da formação de associações, cooperativas e comunidades no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde trabalhou com profissionais e consultores da área de recursos humanos e desenvolvimento organizacional e coordenou cursos e workshops.
Participou da diretoria da Associação Harmonia Ambiental – Coonatura no Rio de Janeiro nos períodos de 1984 a 1987 e de 1993 a 1996. Foi co-fundador e membro do Centro de Vivências Nazaré Criança em Nazaré Paulista, São Paulo de 1990 a 1992.
Iniciou seu treinamento em meditação budista em 1986 com o Don K. Jayanetti e Venerável Puhuwelle Vipassi na Sociedade Budista do Rio de Janeiro. Desde 1993 é praticante do Budismo Tibetano sob orientação de Sua Eminência Chagdud Tulku Rinpoche.
Atualmente, Alexandre, além de ministrar para grupos e empresas o Programa de Redução do Estresse - A Arte do Estresse, é jornalista especializado em publicações na área de saúde e instrutor e coordenador do Centro de Budismo Tibetano Chagdud Gonpa Dechen Ling em Nova Friburgo - RJ.

PARA MAIORES INFORMAÇÕES SOBRE O PROGRAMA:
Alexandre Saioro - asaioro@gmail.com - Tel. (22) 99973-2609