quinta-feira, agosto 19, 2010

MEDITAÇÃO NÃO É RELAXAMENTO


Meditação: o que significa esta palavra?
Se você fizer uma busca na internet, irá encontrar muitos significados para a palavra meditação. E cada significado vai corresponder a uma certa prática meditativa com resultados diferentes, apesar de muitas terem semelhanças em suas instruções.
Quando ouvimos a palavra meditação, precisamos entender que ela é usada de uma forma generalizada para muitos tipos de práticas que nem sempre poderiam ser chamadas de meditação. Muitos chamam de meditação certas práticas de relaxamento, mas meditação não é relaxamento.
Por exemplo, uma prática em que você procura focar a atenção na respiração pode trazer resultados completamente diferentes dependendo da visão de quem ensina esta técnica. Esta técnica pode proporcionar apenas uma forma de relaxar, mas não necessariamente de meditar. Dependendo da visão e da capacidade do professor esta técnica pode, além de relaxar, desenvolver a concentração e, indo mais além, pode ajudar a dissolver reações e condicionamentos emocionais que trazem muitos tipos de sofrimento. E o que define este resultado é a visão do professor. A visão e a capacidade de um professor são tão importantes que esta mesma técnica quando é usada apenas como um relaxamento pode, na verdade, reforçar as reações emocionais que nos causam tensão e estresse.
Muitas vezes o problema começa com a pessoa que quer aprender meditação, pois ela procura a meditação para um alívio imediato de algum tipo de sofrimento. Mas se o professor tiver habilidade, ele pode conduzir a prática para um resultado além. Ao mostrar uma perspectiva maior sobre a natureza do sofrimento, o professor pode ensinar como eliminar as suas reais causas.
A grande maioria das pessoas busca a meditação interessada em relaxar as tensões do cotidiano. Elas não se interessam muito em saber como e porque criam as tensões. Isso exige um pouco mais de trabalho e vontade de lidar com nosso interior; nossas crenças e emoções. Significa lidar com nosso egocentrismo, ou seja, com conflito entre eu e tudo aquilo que vejo que não sou eu. Se uma meditação não tem como perspectiva lidar com este dualismo, ela será apenas um alívio paliativo.
Por isso, é muito importante você, primeiramente, saber que resultado você busca com uma prática de meditação e, assim, escolher um professor que, realmente, oferece o que você está buscando.
Muitos pensam que meditação é apenas um exercício que fazemos sentados num lugar tranqüilo, observando a respiração, recitando algum mantra, fazendo visualizações ou nos concentrando em algum objeto para encontrar paz, parar o pensamento e se desligar as emoções. Mas, na verdade, só isso não ajuda muito, pois não traz uma mudança na nossa mente.
A palavra para meditação em tibetano significa “familiarizar-se com”. Quando pensamos, sentimos, falamos e agimos estamos nos familiarizando e reforçando mais e mais nossas visões das coisas. Desta forma, somos levados por nossas emoções e crenças e meditamos segundo o que elas nos dizem num círculo vicioso sem fim. Nós meditamos o tempo todo, só que de maneira errada.
Quando fazemos um exercício de meditação que nos leva somente a um estado de relaxamento, nós podemos até conseguir este objetivo por um certo tempo, mas vai chegar uma hora em que nós teremos que levantar e lidar com tudo aquilo que nos tira a paz e nos deixa com raiva, ciúme, medo etc. E aí?
Pode ser que o efeito temporário da “meditação” nos faça não reagirmos tão prontamente aos estímulos irritantes do mundo, mas, logo, esse efeito anestesiante passa e voltamos a loucura de sempre. Voltamos a nos envolver com nosso egocentrismo, reforçando as crenças e as emoções com que nos identificamos e que perturbam a paz experimentada. Ou seja, nós não mudamos a mente em nossa suposta meditação, apenas demos alguns minutos de descanso para nossa confusão. Certa vez, ouvi um mestre tibetano dizer que quando fazemos este tipo de prática relaxante, nós também damos um descanso para nossas emoções perturbadoras e depois, quando elas são estimuladas novamente elas voltam com mais força também.
É importante as pessoas interessadas em meditação saber que a meditação autêntica realmente envolve, inicialmente, o desenvolvimento da concentração que traz um relaxamento da mente, mas isso ainda não é meditação. Na meditação, tendo realizado esta capacidade de concentração e relaxamento, começamos a investigar nossas experiências, desconstruir crenças, desafiar nossas reações emocionais e hábitos de percepção que dita o que somos e o que é o mundo. É aí que a meditação começa e sabemos que ela está funcionando quando vemos a diminuição de nosso egocentrismo e o aumento de nossa compaixão. Este é o sinal do progresso numa meditação autêntica.
Iniciado este processo, tomamos as rédeas de nossa mente e podemos permitir que uma sabedoria incomum surja em nossas vidas. Com esta inteligência livre, não reativa e compassiva, podemos lidar com nossas experiências gerando menos sofrimento para nós e para os outros e aumentando nossa capacidade de trazer benefícios.

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