sexta-feira, abril 27, 2012

A REVOLUÇÃO DA COMPAIXÃO

Muitos acreditam que sentimentos como aversão, raiva e ódio nos ajudam a transformar nossas experiências e relações no mundo. Eu tenho minhas dúvidas. Penso que mudanças movidas por estes sentimentos estão fadadas a se tornarem tão prejudiciais quanto a situação anterior. Isto porque quando se faz uma mudança desta forma o que muda é apenas o objeto em que identificamos o problema e não a essência do problema.
Por exemplo, em nossas relações pessoais e sociais sofremos quando somos tratados com desrespeito e violência, mas quando tentamos evitar estas experiências, muitas vezes acabamos usando estas mesmas atitudes. O que acontece neste tipo de situação é que quando agredimos aqueles que nos agridem, seja com pensamentos, palavras ou ações, alimentamos o mesmo paradigma que queremos transformar, ou seja, colocamos mais lenha na fogueira. E, mais cedo ou mais tarde, tudo acaba se repetindo neste meio, gerando a mesma agressão e sofrimento que se estava querendo evitar. Além disto, o nosso sentimento de raiva nos cega de uma visão mais clara e completa da situação e também desestabiliza nosso estado físico e emocional. Por isso, penso que uma tentativa de mudança movida pela raiva é a forma mais ineficaz de melhorar uma determinada situação. E quando digo raiva não quero só dizer aquela raiva esbravejante, mas uma simples indignação pode dar vazão a atitudes completamente equivocadas e mesmo desastrosas. Todos nós achamos que é válido ficarmos indignados com erros e injustiças, mas o que não percebemos é que a indignação é a “filha mais nova” da raiva que tem sua origem na desconsideração e no desrespeito ao outro.
Há pouco tempo li um artigo sobre Ecologia da Mente escrito pelo ambientalista e escritor Carlos Cardoso Aveline em que ele fala do problema da indignação. Ele afirma que “o erro alheio não deve causar indignação. Pode-se combater o erro alheio, especialmente quando ele tem consequências negativas sobre os inocentes. Mas a indignação cega-nos e tira a serenidade. É preciso combater o erro, não a pessoa que errou. E a indignação diante do erro pode ser um disfarce da inveja. Perde-se muita energia com indignação perante os erros alheios. Esta energia seria melhor empregue no nosso próprio auto-aperfeiçoamento. Este último é algo que ninguém pode fazer por nós”. Partindo deste princípio podemos ver que antes de investirmos contra pessoas, grupos, assim como ideologias para mudar alguma situação de injustiça ou violência, temos que, primeiramente, olhar nossa tendência habitual de gerar intolerância, raiva e desrespeito em relação ao outro. É preciso entender profundamente que é contraditório e ineficaz infligirmos ao outro aquilo que não queremos para nós mesmos.
Isto não quer dizer que devamos deixar uma pessoa que traz prejuízo e sofrimento aos outros fazer o que ela bem entende. É claro que devemos impedi-la para que não cause mais mal. Mas uma coisa é fazer isso movido pelos sentimentos de vingança e castigo numa atitude de desconsideração e outra é fazer movido pelos sentimentos de compaixão, e amor numa atitude de reeducação. Temos que lembrar que aquele ser, por causa das experiências que teve ao longo da vida, acabou aprendendo a buscar a felicidade de uma maneira equivocada. Ninguém nasce com violência e ódio no coração, isto é aprendido e reforçado ao longo da vida, como diz Nelson Mandela: "Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, ou por sua origem, ou... sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se elas aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o seu oposto. A bondade humana é uma chama que pode ser oculta, jamais extinta".
Eu acrescentaria que nenhum bandido, corrupto e trapaceiro nasce com a ganância, a falta de escrúpulos e de ética. Ele aprendeu a buscar a felicidade desta forma. Todo ser, seja humano ou não, está buscando a felicidade. E se buscamos a felicidade é porque ainda não somos felizes, ou seja, estamos sofrendo, mesmo que seja um pequeno ou imperceptível sofrimento. É este fato que nos une a todos os seres e que nos conclama a ter, antes de tudo, consideração e respeito por todos. Todos os seres aprendem através do seu meio uma forma de encontrar alguma felicidade ou algum alívio do sofrimento. E a grandíssima maioria dos seres, diria 99%, buscam esta felicidade de forma autocentrada, buscando a satisfação de suas necessidades pessoais e do grupo que se identifica. Mas, assim como foi aprendido, isso pode ser desaprendido. Todos nós podemos ser reeducados. E o primeiro que precisa desta reeducação emocional somos nós mesmos.
Quando queremos resolver uma situação temos que estar bem atentos a nossa própria tendência autocentrada que dá surgimento à raiva e à desconsideração. É necessário desenvolver uma atenção bastante aguçada sobre esta tendência, pois, no final das contas, é ela a causa de todo o sofrimento que vivemos e vemos no mundo. Este é o primeiro passo para uma real mudança de qualidade em nossas experiências pessoais e sociais.
Quando partimos deste ponto numa intervenção de uma situação começamos de forma correta, pois ao levarmos o outro em consideração, podemos ver com mais clareza o que tem que ser mudado, onde começam realmente os problemas e, assim, saberemos como lidar com habilidade a situação em seus diversos níveis de interdependência. Na medida em que vamos nos tornando mais habilidosos em nossa atitude compassiva, desenvolvemos mais sabedoria e esta sabedoria incrementa mais ainda nossa compaixão. O resultado disto tudo é uma revolução através da compaixão em nossa maneira de ser e consequentemente em nossas experiências. Conquistamos cada vez mais liberdade e realização e descobrimos uma felicidade autêntica e um bem estar incondicional que podemos compartilhar com todos aqueles que nos acompanham em nossa jornada.
ALEXANDRE SAIORO ministra para grupos e empresas o Programa de Redução do Estresse - A Arte do Estresse - baseado em metodologias utilizadas na área de desenvolvimento humano e organizacional e em métodos de meditação e contemplação da tradição budista. Para saber mais sobre o Programa vá até o final do Blog ou acesse: http://a-arte-do-estresse.blogspot.com/

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